sábado, 2 de outubro de 2010

Autopsicografia (Fernando Pessoa)

  O poeta é um fingidor.

 Finge tão completamente

 Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.




Consideração do poema
(Carlos Drumond de Andrade)

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